domingo, 29 de novembro de 2009

Leitura essencial

Mais um grande artigo do Fernando Gabriel publicado no Diário Económico de 25/11/09.


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Ainda Orwell
Um conhecido aforismo de George Orwell resume a ambição subjacente à política das alterações climáticas: quem controla o passado, controla o futuro e quem controla o presente, controla o passado.

Os defensores da tese da actividade humana como a causa do aquecimento global controlam o presente da discussão política e pretendem controlar o futuro político da humanidade. O que não se sabia era até onde estavam dispostos a ir na tentativa de controlar o passado. Na última semana ficámos a saber, depois de ‘hackers' terem retirado cerca de 1000 e-mails e 3000 documentos das bases da Climate Research Unit (CRU) da universidade de East Anglia. O director do CRU coordena o HadCrut, uma unidade conjunta com o Hadley Centre for Climate Prediction and Research, que é uma das quarto fontes de dados do IPCC.

Os documentos extraídos do CRU mostram de forma transparente a existência de manipulações dos dados de temperatura, de forma a ocultar variações "inconvenientes" à tese do aquecimento global. Mostram também que há uma campanha deliberada de limitação do livre inquérito científico nesta matéria, através de ataques à reputação de cientistas com posições contrárias, do boicote à publicação de artigos e da viciação do processo de peer review. Em suma, o que transparece destes documentos é o desprezo de cientistas com um papel crucial no IPCC por princípios éticos básicos e pela honestidade intelectual, subordinando a investigação à obtenção de resultados que promovam uma causa política.

Só surpreende a ingenuidade, ou impunidade, com que estas manobras são discutidas por alguns dos intervenientes: o resto não. Nos últimos anos, pelo menos dois pedidos de cedência de dados ao abrigo da lei de liberdade de informação foram recusados pelo HadCrut, o último dos quais com a inusitada justificação que a divulgação dos dados podia "causar danos às relações internacionais". Pela primeira vez, registos de temperatura ascenderam à categoria de segredo de Estado. O CRU fez tudo para evitar a divulgação dos dados e chegou mesmo a declarar que parte das séries tinha sido "perdida". Agora compreendem-se melhor os motivos do pânico.

Num editorial invulgarmente desonesto, o Financial Times tenta limitar os estragos e atribui aos que exigem mais transparência na investigação delírios de uma "vasta conspiração". Não é -vasta. A peça central da política do aquecimento global é o relatório do IPCC de 2007, em particular o capítulo 9, apresentado como o "consenso de 2500 cientistas". Sucede que o capítulo crucial tem apenas 53 autores. Desses, 38% são ingleses e um quinto do total são cientistas do CRU. Dos artigos científicos aí citados, 70% têm como co-autores os 53 cientistas envolvidos: vasta conspiração ou uma rede social com grandes afinidades intelectuais e ideológicas?

O potencial de descrédito para a investigação científica é o resultado da tentativa de utilização do ambientalismo para concretizar uma velha obsessão progressista: a instauração de um governo mundial, assessorado por "peritos" capazes de controlar o futuro e prevenir todos os males. Na cabeça dos crentes, a grandeza do propósito justifica os meios. Orwell sabia do que falava.
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Fernando Gabriel, Investigador universitário"

sábado, 21 de novembro de 2009

A Extraordinária história de William Kamkwamba

William Kamkwamba nasceu numa família de camponeses na pequena vila de Mastala, no Malawi. Apesar de sempre ter vivido na pobreza, viu a sua situação e a da sua comunidade degradar-se quando em 2001 houve uma seca que assolou severamente o seu país. Muita gente morreu de fome, e William e a sua família passaram a viver em dificuldades ainda maiores. William teve que abandonar a escola porque a sua família não tinha dinheiro para pagar os seus estudos. No entanto o jovem, de então 14 anos, estava determinado em fazer qualquer coisa para continuar a aprender. William intrigava-se com a quantidade de vento que havia no Malawi e começou a perguntar-se a si próprio como é que poderia usar esse recurso natural em proveito da sua comunidade. Então foi para a biblioteca local e pôs-se a ler livros de ciência, em especial de física. A falta de conhecimento da língua inglesa não foi um entrave para William interpretar os diagramas e as palavras que ia encontrando nos livros. Até que um dia encontrou um livro que explicava como um moinho de vento poderia bombear água e gerar electricidade. Esse livro acabou por mudar o destino de William. Com o seu espírito de iniciativa e com o que aprendeu dos livros, William decidiu construir um moinho sozinho e à falta das matérias-primas essenciais, foi usando materiais que foi encontrando num ferro-velho. Desde roldanas, a tubos plásticos, ventilador de tractor a outras peças William conseguiu construir um moinho capaz de gerar 12 watts de electricidade - suficiente para ligar quatro lâmpadas e dois rádios na sua casa. Depois, o rapaz partiu para outro projecto: construir um moinho capaz de gerar no mínimo 20 watts, o suficiente para bombear água e irrigar toda a sua vila. Este é um mini-documentário desta extraordinária lição de vida. Mais informações sobre a sua história podem ser acompanhadas aqui

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A desconhecida grande depressão de 1920

Já ouviram falar na Grande depressão de 1920? Os livros de história e de economia retratam exaustivamente aquela que é conhecida como a grande depressão de 1929. No entanto, não deixa de ser no mínimo curioso que praticamente ninguém fale da grande depressão de 1920. Em 1920, Woodrow Wilson estava na fase final do seu mandato como Presidente dos Estados Unidos da América, quando o seu país começou a enfrentar uma depressão económica. Durante um período de 18 meses que inclui a parte final do seu mandato e o início do mandato de Warren Harding os EUA atravessaram uma crise económica que pouca gente retrata.

Factos interessantes a reter desta crise:

- O primeiro ano foi pior do que o primeiro ano da "grande depressão" que começou em 1929.
- A produção caiu cerca de 21%
- O PIB caiu 24%
- A taxa de desemprego aumentou de 4% para quase 12%

Como podemos constatar tudo indicadores de uma grande depressão económica e bem mais graves do que o que foi registado no primeiro ano daquela que é historicamente conhecida como a grande depressão de 1929 que acabou por durar 10 anos.

Hoje em dia é-nos dito vezes sem conta pelos nossos políticos e por boa parte da imprensa mainstream que perante uma crise económica não podemos sair dela sem fazer nada. Para justificar as medidas governamentais que têm sido tomadas tem-nos sido dito que é completamente impossível sair da crise sem intervenção do governo com políticas contra-cíclicas, quer seja por via fiscal ou por via de políticas monetárias. Por política fiscal entenda-se a actuação do governo no que diz respeito à arrecadação de impostos e ao nível dos investimentos públicos. Por via monetária entenda-se a actuação do Banco central para definir as condições de liquidez na economia, nomeadamente através de oferta de moeda e nível das taxas de juro.

Voltando à grande crise de 1920 o que é que o governo norte-americano na altura fez? Segundo o que nos é impingido hoje em dia teria seguramente aumentado o investimento público e o Banco central, o FED, teria actuado por via de políticas monetárias ora imprimindo mais moeda e/ou baixando as taxas de juro. Afinal é isso que Obama está a fazer, e é o que muitos outros governos um pouco por todo o Mundo, incluindo Portugal estão a fazer. Mas terá sido isso que Woodrow Wilson e Warren Harding fizeram nos EUA em 1920 e 1921? A resposta é não. Pasme-se…o orçamento de Estado caiu entre 1920 e 1921 e entre 1921 e 1922. Bom então secalhar houve pelo menos um estímulo na economia por via monetária? A resposta é também não. Não houve redução nas taxas de juro nem houve uma política de impressão de moeda criada do nada. No espaço de pouco mais do que 18 meses, a economia americana começou a recuperar robustamente. A lição a tirar deste pequeno período da história dos EUA é a de que a receita que permitiu essa recuperação foi o total oposto do que nos dizem hoje ser completamente impossível para recuperarmos duma crise económica. Tudo aquilo que está a ser feito foi o que acabou por levar à grande depressão de 1929 e à actual crise.

Thomas E. Woods, Jr. explica tudo em detalhe sobre a grande depressão de 1920 e as lições a tirar dela neste excelente video.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O poder das ideias-Um olhar diferente para combater a crise

John F. Kennedy um dia disse:

The Chinese use two brush strokes to write the word 'crisis'. One brush stroke stands for danger; the other for opportunity. In a crisis, be aware of the danger-but recognize the opportunity.


Eis um excelente exemplo de uma campanha de viral marketing que leva isto à letra para combater a actual crise mundial. As agências de publicidade Leo Burnett Lisboa e Arc Worldwide desenvolveram um plugin que elimina a palvara "crise", substituindo-a pela palavra "oportunidade".Esta aplicação já foi traduzida para mais de 20 idiomas e tem tido uma excelente resposta em especial em Portugal, no Brasil, EUA, Reino Unido e Austrália.


Podem ver aqui o video do plugin a funcionar

Campanhas de viral marketing geniais


Sony Vaio W Séries.

A ler

Vermelhos de indignação de Nicolau Santos no Expresso.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O pior ainda está para vir

A classe política já começou a decretar o fim da crise. Desde Obama a Teixeira dos Santos às principais praças financeiras como Wall Street onde anda a reinar um optimismo completamente irracional. Desde o ano passado quando estoirou a maior crise financeira e económica desde a Grande Depressão que temos visto muita gente, em especial a classe política a desculpar-se dizendo que nada fazia prever isto. No entanto, desde 2002 que o economista americano Peter Schiff vinha alertando que vinha aí um colapso financeiro que iria arrastar a economia atrás para níveis sem precedente por causa do subprime e do mercado imobiliário que estavam a criar uma bolha estimulada por uma política monetária completamente errada baseada em taxas de juros artificialmente baixos. 


Em várias entrevistas ao longo dos últimos anos em vários órgãos de comunicação social Schiff foi fazendo o seu alerta como podemos bem ver neste video. Na altura qual foi a reacção? Riram-se dele. Chamaram-no de pessimista e de tudo e mais alguma coisa. Arthur Laffer neste video chegou a dizer a Peter Schiff o seguinte: "monetary policy is spectacular" e que "nunca a economia americana esteve tão bem." Pois bem, hoje sabemos que Peter Schiff estava certo. Mas Schiff não foi o único a prever esta crise. O congressista republicano Ron Paul vinha fazendo os mesmos alertas. Como é que eles conseguiram prever esta crise? Porque são conhecedores da teoria austríaca do ciclo económico. Ron Paul bem tem lutado por ela, mas infelizmente pouca gente nos bastidores do mundo político e económico lhe dá ouvidos. Mais à frente deixarei mais detalhes sobre a teoria austríaco do ciclo económico.


Perante aquela que é a maior crise das nossas vidas o que é que o Governo americano e a maior parte dos Governos mundiais fizeram? Vimos desde bailout' s sem precedentes para salvar as instituições financeiras que foram responsáveis por nos meterem nesta alhada, a pacotes de investimento e endividamento público históricos, a uma descida das taxas de juro para mínimos históricos por parte dos bancos centrais. Tudo o que foi feito não atacou o que nos levou a este crise. Pelo contrário os bancos centrais e os governos estão apenas a criar uma bolha ainda maior que quando explodir vai-nos deixar numa situação como nunca imaginámos ver nas nossas vidas.


Peter Schiff continua a alertar para os perigos da política monetária completamente irresponsável que está a ser seguida pela Reserva Federal Americana em sintonia com a Administração Obama. O que aí vem será inevitável. Hiperinflação e O dólar vai colapsar. Não é uma questão de Se mas antes de Quando e as consequências da queda da maior economia do mundo são impossíveis de imaginar. No entanto Schiff continua a ser ignorado. Os sinais de aparente retoma que começam a ser celebrados pela classe política não passam de um fenómeno de curto-prazo, não é crescimento sustentável!


Toda esta crise foi prevista pela teoria económica da escola austríaca, mas o mundo político continua antes a dar ouvidos a economistas Keynesianos ou aos da escola clássica de Chicago e às suas políticas monetárias. Recomendo a leitura da teoria austríaca do ciclo económico muito bem sintetizada pelo excelente blog brasileiro blog austríaco. Está lá tudo bem explicado: 







1 O Surgimento da Teoria



A teoria austríaca do ciclo econômico surgiu com a obra Theory of Money and Credit (1912) de Ludwig von Mises. Foi a primeira exposição a respeito dos ciclos econômicos estudada pelos economistas que seguiram a linha de pensamento iniciada por Carl Menger, na Áustria. Depois disso, um aluno do Seminário de Economia desenvolvido por von Mises na Câmara de Comércio da Áustria, F. A. von Hayek, deu procedimento ao que seu professor havia esboçado em seu primeiro trabalho. Depois das contribuições de Hayek outros economistas austríacos contribuíram ao estudo dos ciclos, a exemplo de Richard von Strigl em Capital & Production, mas Mises retomou o tema no que viria a ser a sua grande obra, o seu livro Human Action (Ação Humana), publicado em inglês em 1949, porém baseado em um trabalho em alemão, publicado em 1940. Depois disto, o americano Murray N. Rothbard, destacado aluno e seguidor de von Mises, quando este se mudou para os EUA, viria aplicar a teoria austríaca dos ciclos para explicar a grande depressão de 1929 nos EUA em seu clássico America’s Great Depression, de 1963. Atualmente, a tradição austríaca segue com os estudos de vários economistas, onde cumpre sublinhar o trabalho desenvolvido pelo professor Roger Garrison da Universidade de Auburn, no estado do Alabama, EUA.
Feita esta rápida apresentação, salienta-se que o presente capítulo se preocupará em dissertar apenas sobre a contribuição à teoria dos ciclos econômicos feitas por Ludwig von Mises e F. A. Hayek, os precursores da teoria e até hoje seus maiores expoentes.

1.2 Os Elementos da Teoria

A teoria austríaca dos ciclos é uma teoria eminentemente monetária. Mises ligou a teoria da moeda com o estudo do mercado, a catalaxia[1]. Até então a teoria monetária era uma área específica de estudos, praticamente desligada da teoria econômica. Reunindo a teoria da utilidade marginal de Menger, a teoria do capital de Böhm-Bawerk e a teoria da moeda de Wicksell, Mises integrou a teoria monetária dentro deste todo maior, a economia de mercado. Como salienta o próprio Rothbard (2000): “Study of business cycles must be based upon a satisfactory cycle theory.[…] A cycle takes place in the economic world, and therefore usable cycle theory must be integrated with general economic theory”[2].
1.3 O Juro



Ludwig von Mises herdou do austríaco Böhm-Bawerk a contribuição que este fez a respeito do fenômeno do juro (embora tenha percebido que o processo se dava ao inverso do que promulgou Böhm-Bawerk) quando ele derivou que o juro é um fenômeno praxeológico, ou seja, é um fenômeno inerente à ação humana condicionada àpreferência temporal. A descoberta de Böhm-Bawerk foi que o fenômeno do juro originário é representado pela diferença de valoração que um indivíduo dá a determinado bem no presente e no futuro. Nas palavras de Mises (1995):
“Juro originário é a relação entre o valor atribuído à satisfação de uma necessidade no futuro imediato e o valor atribuído a sua satisfação em períodos mais distantes do tempo. Manifesta-se na economia de mercado pelo menor valor dos bens futuros em relação aos bens presentes. É uma relação entre preços da mesma mercadoria, e não um preço em si mesmo” (p. 532).
Desta forma, o juro representa um guia dos homens de negócios, no sentido de que ele revela a real preferência dos consumidores se estes estão tendendo a consumir mais bens no presente ou no futuro. Caso o estejam preferindo consumir mais no futuro, o juro tenderá a ser relativamente baixo, e vice-versa, influenciando o grau de investimentos e a estrutura produtiva de uma economia.
1.4 A Expansão Monetária
Para Mises e os economistas da Escola Austríaca o fenômeno do ciclo econômico não pode ocorrer numa economia livre, visto que nela o fenômeno dos juros e dos preços estão permanentemente sinalizando tanto o grau de escassez e utilidade dos bens e serviços, quanto a preferência temporal, que, economicamente, passa a ser representada pela quantidade de poupança disponível. Desta forma, o nível de investimentos, fora os fatores institucionais, está em função da poupança disponível, tendo os juros (preferência temporal) como “medidor” desta disponibilidade.
Assim, Mises inferiu que o fenômeno das flutuações econômicas não poderia ser alegado através de argumentos como a “inerência do sistema de livre mercado”, mas sim, de algo externo a ele.
Posto que o juro é um fenômeno cataláctico e não monetário, Mises percebeu que quem gerava as flutuações econômicas eram os governos e seu banco central, através da expansão monetária.
Um aspecto fundamental da teoria austríaca é que ela não considera a situação de pleno emprego na economia e nem a de equilíbrio. Ela rejeita ambas, e desde Mises, acredita-se que a economia é um processo, marcado pela mudança constante, sendo impossível que ela atinja algum estágio tal como o pleno emprego ou o equilíbrio. Contudo, a teoria austríaca mostra que a economia tende ao equilíbrio, porém, nunca o alcança.
Deste modo, Mises enfatizou que um dos principais instrumentos que o governo dispõe para expandir a oferta de moeda é através da manipulação da taxa de juros, via Banco Central, ou mesmo, pela pura e simples impressão de notas fiduciárias pelas autoridades monetárias, preponderante nos dias de hoje, fenômeno conhecido como “poupança forçada”.
1.5 O Ciclo Econômico



Uma vez que o governo baixe as taxas de juros a níveis que não condizem com a oferta real de poupança, as autoridades estarão emitindo sinais para a economia como se o estoque de poupança tivesse aumentado. Assim, o crédito fica mais barato, e este sinal que os juros passam a emitir é um importante orientador do nível de investimento na economia. Com o dinheiro abundante no mercado, graças à queda artificial na taxa de juros promovida pelas autoridades monetárias, os empresários percebem que projetos de investimentos que antes não eram lucrativos, agora passam a ser. Em outras palavras, há uma sensação de que a preferência temporal dos agentes econômicos aumentou, i. e., juros diminuíram.
Neste momento tem-se que a expansão de crédito estimula os homens de negócios a empreenderem novos projetos de investimentos. Ocorre uma ampliação da capacidade produtiva da economia. Por conseqüência, mais fatores de produção são alocados e mais emprego é gerado. É a primeira fase do ciclo econômico, a fase do boom no setor de bens de capital.
Mas uma queda na taxa de juro decorrente de uma expansão do crédito falseia o cálculo empresarial. Embora a quantidade de bens de capital disponíveis não tenha aumentado, o cálculo emprega parâmetros que só seriam utilizáveis se esse aumento tivesse ocorrido. O resultado, portanto, é enganador. Esses cálculos fazem com que alguns projetos pareçam viáveis e exeqüíveis, quando um cálculo correto, baseado numa taxa de juro não deformada pela expansão de crédito, mostraria a sua inviabilidade. Os empresários se lançam na realização desses projetos; a atividade empresarial fica estimulada. Tem início um boom (MISES, 1995, p. 558).
Segundo a teoria austríaca, o primeiro setor da economia a se lançar em novos projetos de investimentos, devido à expansão creditícia, é o de bens de capital. São os projetos de longo prazo (long-term) que, antes da expansão monetária, se mostravam inviáveis. Eles não correspondiam às preferências mais urgentes dos consumidores. Assim, a expansão do crédito provocada pela queda artificial na taxa de juros, provoca, antes de tudo, um estímulo nos setores de bens de capital.
As condições tecnológicas obrigam a que a expansão da produção só tenha início após a expansão das instalações que produzem bens de uma ordem mais afastada dos bens de consumo acabados. Para expandir a produção de calçados, roupas, automóveis, móveis, casas, é preciso, primeiro, expandir a produção de ferro, aço, cobre e outros bens do mesmo gênero (MISES, 1995, p. 564).
Mises coloca a hipótese de que a expansão de crédito tenha se dado de uma só vez, sem repetição. Então, se a expansão monetária consistir de uma única injeção, ele admite que o boom não poderá durar muito tempo e a economia logo volta ao seu nível natural. Neste caso, tem-se que:
Os empresários não conseguem obter os recursos de que necessitam para dar continuidade aos seus projetos. A taxa bruta de juro do mercado aumenta porque a maior demanda por empréstimos não é contrabalançada por um correspondente aumento na quantidade de moeda disponível para empréstimos. Os preços das mercadorias caem porque alguns empresários vendem seus estoques e outros se abstêm de comprar. A atividade empresarial se contrai novamente. A alta termina porque as forças que a provocaram deixaram de atuar. A quantidade adicional de crédito circulante esgotou a sua capacidade de influir sobre os preços e salários. Os preços, os salários e os vários encaixes individuais ajustam-se à nova relação monetária; deslocam-se em direção ao estado final que correspondente a essa nova relação monetária, sem serem desviados por novas injeções de meios fiduciários adicionais (MISES, 1995, p. 558).
Mas, se o governo levar a cabo a expansão de crédito de forma persistente e cada vez mais intensa, o aumento do emprego dos fatores nas indústrias de bens de capital provocará uma maior demanda por trabalho, trazendo consigo um aumento no nível de salários. O aumento dos salários dos trabalhadores das indústrias de bens de capital, bem como o aumento da renda dos próprios donos dos fatores (empresários, fazendeiros, industriais) pressionará para cima a demanda por bens finais (bens de consumo) antes mesmo que estes setores tivessem aumentado a sua produção. Este movimento, por sua vez, pressionará para cima os preços dos bens de consumo finais. É a segunda fase do boom, caracterizada pelo aumento da demanda por bens finais e a correspondente alta destes preços, visto que, como não houve aumento na propensão a poupar, a relação consumo/poupança crescerá.
A terceira fase do ciclo tem início no momento em que o aumento dos gastos em bens de consumo que agora se verifica de maneira cada vez mais forte termina criando um “cabo-de-guerra” entre os setores produtores desses bens e as indústrias, ainda em expansão, de bens de capital.

Esta disputa tem o efeito de aumentar tanto os preços dos bens de capital quanto a taxa de juros e, como as rendas são maiores nos estágios de bens de capital do que nos de bens de consumo (pois a expansão dos primeiros iniciou-se antes que a dos segundos), ocorrerá uma escassez de capital nas industrias cuja expansão somente agora se inicia (IORIO, 1998, p. 148).

Trata-se de uma competição por fundos de empréstimo que está sendo travada em todos os estágios de produção que pressionará as taxas de juros pra cima, provocando uma contração no crédito e no nível de investimentos.
Caso as autoridades monetárias julgarem importante seguir com a expansão desenfreada de moeda, com o intuito de evitar o efeito recessivo, decorrerá que o processo inflacionário se acelerará. Porém, somente até o ponto em que um número cada vez maior de pessoas começa se dar conta da queda do poder aquisitivo da unidade monetária e, por extensão, começam a agir numa busca desesperada por ativos reais, culminando no colapso do sistema monetário. Assim, chega-se a quarta fase do ciclo: a recessão, ou, na pior das hipóteses, caso o governo opte por insistir com a expansão monetária, o colapso do sistema.
Para aqueles que não estão engajados em negócios nem familiarizados com as operações de bolsa de valores, os principais veículos de poupança são a caderneta de poupança, a compra de títulos e de seguro de vida. Todos estes tipos de poupança são prejudicados pela inflação. Assim sendo, desencoraja-se a poupança e incentiva-se o gasto extravagante. A reação final do público, a “fuga para valores reais”, é uma tentativa desesperada de salvar alguma coisa da ruína inevitável (MISES, 1995, p. 554).
A quinta e última fase do ciclo se dá quando a contração econômica ou o colapso do sistema faz com que a taxa de juros reflita a real disponibilidade de poupança da economia, ou seja, exerça o seu papel de indicar a preferência tempo, através das demissões em massa, de projetos inacabados que se revelaram anti-econômicos e de falências em todo o tecido do sistema produtivo.
Segundo a Escola Austríaca, a depressão econômica é o ajuste inevitável que o sistema econômico passa em virtude de um boom econômico promovido artificialmente pelas autoridades monetárias, através da expansão do crédito.
1.6 Considerações Finais

Mises adverte que “a essência da expansão de crédito não é o excesso de investimento; é o investimento no setor errado, isto é, o mau investimento” (1995, p.563).
Costuma-se descrever o boom como um período de excesso de investimento. Entretanto, só é possível haver investimento adicional na medida em que haja uma quantidade adicional disponível de bens de capital. Como, exceção feita à poupança forçada, o período de alta em si não resulta numa restrição, mas, ao contrário, num aumento do consumo, é impossível que por seu intermédio surjam os bens de capital necessários aos novos investimentos (MISES, 1995, p. 563).
Mises ainda diz que numa economia de livre mercado não ocorre o tal fenômeno de superprodução alegado tanto pelos marxistas quanto por Keynes e seus seguidores. A teoria austríaca ensina que se houver alguma mudança nas preferências dos consumidores ou mesmo um aprimoramento tecnológico, se estes não forem seguidos de expansão monetária artificial, o que ocorrerá será uma queda no consumo de determinados bens e um aumento no consumo dos bens em que os consumidores passaram a preferir ou aqueles que as novas invenções tecnológicas disponibilizaram. Mises assume que pode, neste caso, haver alguma quebra de empresas específicas, mas não ocorre o que se entende por crise de superprodução ou depressão generalizada, posto que as perdas de um lado serão contrabalançadas pelos ganhos das empresas que atraíram a demanda dos consumidores.
Diante do exposto, verifica-se que, a teoria austríaca do ciclo econômico é uma teoria do boom artificial e, mostra, para além de qualquer dúvida, que toda e qualquer depressão econômica só pode ser provocada pelas autoridades governamentais, através da expansão do crédito, jamais pelas “livres forças de mercado”.
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[1]Catalaxia significa a economia de mercado no sentido mais puro do termo (Mises, 1995).

[2]O estudo dos ciclos econômicos deve ser baseado em uma satisfatória teoria do ciclo.[...] Um ciclo acontece no mundo econômico e, por isto, uma teoria do ciclo útil deve ser integrada com a teoria econômica geral”. (tradução livre do autor).
Referências:
GARRISON, Roger W. Business Cycles: Austrian Approach. Howard Vane and Brian Snowdon, eds. An Encyclopedia of Macroeconomics Aldershot: Edward Elgar, 2002. Disponível em: <http://www.auburn.edu/~garriro/c6abc.htm.>. Acesso em: 15 Jul. 2005.
IORIO, Ubiratan J. Economia e Liberdade: A Escola Austríaca e a Economia Brasileira. 2. ed. (atual. e ampl.). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. 240 p.
MISES, Ludwig von. Ação Humana: Um tratado de Economia. Tradução de Donald Stewart Jr. 2. ed. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1995. 890 p.
MISES, Ludwig von et al, The Austrian Theory of the Trade Cycle and other essays. Auburn, AL: Ludwig von Mises Institute, 1996. Richard M. (Comp.). Disponível em: <http://www.mises.org/tradcycl.asp.>. Acesso em: 26 Abr. 2005
ROTHBARD, Murray N. America’s Great Depression. Auburn: The Ludwig von Mises Institute, 2000. Disponível em: <http://www.mises.org/rothbard/agd.pdf.>. Acesso em: 02 Mai. 2005.
ROTHBARD, Murray N. O Essencial von Mises. Tradução de Maria Luiza Borges. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympo: Instituto Liberal, 1984. 54 p. (Série Pensamento Liberal, n. 1).







Agora é que vai ser

Finalmente está encontrada a solução para Portugal sair da crise. Portugal tem petróleo, só falta é extraí-lo. Pelo menos Joe Berardo acredita que há petróleo em Portugal. Ah bom, podemos finalmente estar descansados...

Fusão BA/Iberia confirmada

Já é oficial. As administrações da British Airways e da Iberia confirmaram a decisão de avançarem para um projecto de fusão. A TAP que se cuide, em especial no que toca ao mercado brasileiro. Hoje mais do que nunca a fusão TAP, TAAG, TAM, é mais do que uma boa ideia.

Comunismo moderno

Modernices comunistas. Chavez quer que os venezuelanos não cantem  mais do que três minutos no duche.


Mr Chávez has called on Venezuelans to take quicker showers. “Some people sing in the bath for half an hour,” he told a recent cabinet meeting, broadcast live. “What kind of communism is that? Three minutes is more than enough!” (Fonte)

Um novo governo mundial?

Nas próximas semanas com o aproximar da Cimeira de Copenhaga provavelmente vamos ser inundados com notícias sobre ursos polares. Em jeito de mentalização para o que aí vem recomendo algumas leituras interessantes como As nove mentiras de Al Gore que os media mainstream nos vão impingir para aceitarmos a desastrosa e assustadora ideia que aí vem de um novo governo mundial como foi aqui alertado por  Christopher Monckton, tudo claro em nome da salvação do nosso Planeta.