quinta-feira, 29 de abril de 2010

Momento Zen da Semana

Capitalism at Crossroads

Obamageddon is coming

O pior está para vir II

Em Novembro do ano passado escrevi este post "o pior está para vir". Por várias vezes tenho vindo a alertar neste blog que a crise do subprime foi combatida por muitos governos por todo o mundo (incluindo Portugal) de forma completamente errada e irresponsável. Os resultados estão agora à nossa vista. Os bailouts sem precedentes, os pacotes de investimento com base em endividamento público e taxas de juro baixas ao contrário do que muitos Governantes pensaram e ainda pensam não ajudaram a salvar o mundo. Bem pelo contrário têm vindo a criar uma bolha ainda maior, bolha essa que quando explodir vai fazer com que a crise do subprime pareça uma brincadeira de crianças.

A bolha da dívida pública começa a ameaçar explodir na Europa, ameaçando a estabilidade do Euro. Grécia e Portugal têm estado nas capas dos jornais nas últimas semanas causando grande instabilidade junto dos mercados. No curto prazo (tanto pode ser nas próximas semanas como no próximo ano) existe um real perigo de contágio, especialmente se tivermos em conta a bolha de dívida pública que existe neste momento por outros Estados europeus, em especial Irlanda, Espanha, Itália e Reino Unido.

E nada garante que os Estados Unidos, com o seu défice histórico de dois dígitos, não sejam os próximos da lista e estejam safos de um colapso do dólar, o que pode vir a baralhar ainda mais as coisas. Figuras como Roubini, Peter Schiff, Gerald Celente, ou Ron Paul há muito que têm avisado para os perigos deste modelo de endividamento público, acumulação de défices e impressão de moeda criada do nada, mas ninguém com cargos de responsabilidade parece querer ouvi-los. Cada vez estou mais convencido.O pior está mesmo para vir, e o que aí vem não vai ser nada bonito.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Ataques de irresponsabilidade

"Este é um momento decisivo. O país tem que responder a este ataque dos mercados. É tempo de o Governo e os partidos, em especial o PSD, se entenderem quanto a isto: há que executar as medidas necessárias. Não é tempo para querelas inúteis", disse hoje Teixeira dos Santos.

Já era altura dos nossos políticos deixarem de brincar com o fogo com as suas constantes fugas para a frente e dramas de vitimização. Nas últimas semanas parece que tem vingado a tese de que Portugal está a ser alvo de um ataque de especuladores que nos querem comprar à Grécia. Portugal não é ainda a Grécia, mas quem ouve os membros do Governo português falar fica logo com a ideia de que isto é tudo uma grande cabala contra Portugal e que a culpa é dos especuladores. O que é extraordinário aqui é a inversão de responsabilidades. A culpa não é dos malandros dos especuladores que querem ganhar dinheiro à conta dos nossos disparates. A culpa é nossa, do país, que anda há anos a viver acima das suas possiblidades .... A culpa é do Estado (não interessa quem está à frente do Governo pois mudam-se as cores políticas e mantém-se sempre a tendência de aumento da despesa pública) que pesa hoje quase  50% do PIB nacional e tem um défice de 9.4%. Se fossem tudo rosas por Portugal e estivessesmos com as nossas contas públicas controladas os malandros das agências de rating não estariam a baixar o nosso rating nem estaríamos neste momento no lote dos países com maior risco de bancarrota.  Ninguém no seu perfeito juízo pode achar que seria normal que quem empreste dinheiro a Portugal neste momento tivesse o seu risco de nos emprestar dinheiro a ser remunerado à mesma taxa de juro que emprestaria à Alemanha. Vale a pena reler este ensaio que Ricardo Reis escreveu para o jornal i em Dezembro.

 Portugal nesta altura só tem uma solução. Devemos exigir aos nossos governantes que tranquilizem os credores e o mercado com medidas concretas de controlo das finanças públicas, mas olhando também para um crescimento económico sustentável. Em vez dos nossos governantes andarem a fazer-se de vitimas de ataques do mercado, deveriam estar a acalmar o mercado com medidas sérias e de preferência que fujam às típicas fórmulas do passado que nunca resultam. Aqui ficam algumas propostas para Sócrates (algumas delas já propostas antes neste blog):

1- Mexer nos impostos. Não aumentando os impostos, mas fazendo precisamente o contrário ou pelo menos tornando a política fiscal mais simples e transparente. Por exemplo como já proposto aqui: mexer com o IRS aplicando uma taxa de IRS única e positiva ou em alternativa pura e simplesmente abolir com o IRS taxando apenas o consumo via IVA (e aqui até se poderia eventualmente subir o IVA ligeiramente).

2- Baixar a despesa pública mas de forma significativa. Isto por muito que custe a muita gente, implica cortes salariais no sector público, e cortes na saúde e educação (em Portugal está-se convencido que injectar mais e mais dinheiro na educação por si só faz milagres. os resultados estão à vista). Acrescentaria a privatização da RTP que é um buraco financeiro sem sentido algum e que é sempre uma arma política a ser usada por quem quer que esteja à frente do Governo, e da TAP, e de empresas de transportes públicos como a Carris ou a Refer que andam à anos e anos a acumular prejuízos à conta de preços abaixo do mercado subsidiados pelo Estado.

3-Em suporte ao ponto 2 acabar com muitas das parcerias-público privadas pornográficas que o Governo Sócrates tem usado e abusado para mascarar as contas públicas.Ao passar responsabilidades que costumavam entrar no Orçamento de Estado para empresas públicas como a Estradas de Portugal, o Governo Português tem estado (de modo legal diga-se) a mascarar o verdadeiro défice público. À conta destes truques contabilísticos só nos últimos 2 anos as Estradas de Portugal viu o seu passivo aumentar uns pornográficos 1391%. Isto tem de acabar. 

4-Alterar a Constituição Portuguesa: Défices públicos deverão ser declarados como inconstitucionais. Portugal não pode continuar a viver acima das suas possibilidades, e sem crescimento económico sustentável. Em Portugal desdenhamos a poupança.Pior que isso, os nossos políticos estão convencidos que é o consumo que lidera o crescimento económico e não a poupança. Os nossos políticos desde o 25 de Abril que andam todos convencidos disto e ainda não conseguiram perceber, mesmo com todos os disparates que têm feito desde então, que esse caminho é o errado. O futuro de um Portugal sustentável só pode passar por um Portugal que seja rigoroso e que imponha a si própria a ambição de não ter défices, mas sim superavits. O futuro de Portugal só pode passar por um Portugal que tenha a ambição de estimular poupança, porque é a poupança que permite investimento futuro, que por sua vez permite ganhos de competitividade e aumento dos nossos níveis de vida. 

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Vieira da Silva devia ler isto


Combustíveis: E o culpado é...


Sempre que os preços dos combustíveis disparam, geram-se discussões patéticas sobre o mau funcionamento do mercado. As companhias petrolíferas são invariavelmente as más da fita, acusadas de concertarem posições para maximizarem os ganhos. A demagogia é tanta que mesmo depois da Autoridade da Concorrência (AdC) ter estudado exaustivamente o comportamento do mercado e de não ter descoberto qualquer conduta anómala, as acusações permanecem. Os eternos opositores do mercado livre preferem agora atacar a AdC pondo em causa o próprio estudo.

Recomendo a leitura cuidada do relatório "Análise Aprofundada sobre os Sectores dos Combustíveis Líquidos e do Gás Engarrafado em Portugal". que está disponível no site da AdC. Em especial a Vieira da Silva que afirmou esta semana não compreender o porquê dos preços dos combustíveis serem tão elevados em Portugal.
Ora o preço dos combustíveis em Portugal, diz a AdC com base em dados de 2008, resulta da soma de impostos (46% para o gasóleo e 59% para a gasolina), com o preço dos combustíveis refinados no mercado nacional e internacional (44% para o gasóleo e 32% para a gasolina) e com a actividade logística e retalhista (cerca de 10% para ambos).

Como é óbvio as gasolineiras não controlam os impostos, e os preços dos combustíveis refinados estão em linha com os preços de outros países. A margem do retalhistas acaba por ser muito pequena, na ordem dos 13 cêntimos por litro.No dia 12 de Abril um litro de gasolina custava €1,402. Deste, €0,234 é IVA, €0,583 é imposto sobre produtos petrolíferos (ISP) e €0,585 o preço real que serve para pagar os custos do petróleo - extracção, transporte, refinação, armazenagem e distribuição.

Claro que existem postos de abastecimento que fazem preços mais baratos (super e hipermercados) mas abdicam da quase totalidade do lucro para fomentar estratégias comerciais de retalho.Não quer isto dizer que as gasolineiras estejam isentas de culpa. A AdC alerta para o facto de as empresas demorarem muito tempo a ajustarem os preços relativamente à variação do preço do petróleo (cerca de quatro a cinco semanas no gasóleo e cinco a seis da gasolina). Na média da União Europeia este desfasamento é de apenas três semanas. E a subida de preços ocorre por norma uma semana mais cedo do que o ajustamento à descida. Este intervalo de tempo constitui uma importante receita extra para as gasolineiras.

E depois temos a dimensão do mercado que leva a que países pequenos tenham mais custos de estrutura que não conseguem mitigar através do volume de vendas.

Sr. ministro, se não compreende porque é que o preços dos combustíveis são tão elevados compare os preços antes e depois de impostos com a média europeia. É que o Estado é o único grande beneficiário do aumento dos combustíveis.

Texto publicado na edição do Expresso de 17 de Abril de 2010
João Vieira Pereira

domingo, 18 de abril de 2010

Leitura recomendada




O meu Alentejo

Desde miúdo, e sem saber porquê, sinto uma atracção doentia pelos filmes de Michael Mann. Vi "Heat" com quinze anos, e fiquei enterrado na cadeira, como se tivesse levado um tiro metafísico. Há dias, ao rever o último filme de Mann, "Inimigos Públicos", comecei a procurar essa bala perdida que encaixei em 1995, ou seja, comecei a tentar perceber o porquê desta minha paixão por Mann. Desenrolei o novelo, e fui dar ao Alentejo dos meus pais, esse pequeno Sara que me calhou em sorte. É um problema quando nos pomos a fazer autopsicanálise.

Nos filmes de Mann, encontramos sempre uma irmandade contranatura entre ladrão e polícia. E esta irmandade acaba por ser mais profunda do que a própria lei. Em "Heat", o respeito de Al Pacino (polícia) por Robert De Niro (ladrão) simboliza essa fraternidade que está além da frieza da lei. Em "Inimigos Públicos", o polícia que mata Dillinger é - paradoxalmente - aquele que mais respeita o famoso bandido, e, no final, esse respeito revela-se de uma maneira que arranca lágrimas até ao mármore mais frio. Hoje, passados quinze anos sobre o tiro inicial, este universo de Mann parece-me ser uma metáfora estilizadíssima sobre essa coisa estranha que é o patriotismo. Ser-se patriota não é lutar por uma ideia em abstracto, é respeitar o vizinho do lado, é respirar aquela amizade cívica que está a montante do músculo frio da lei. Ora, estes filmes, que fascinariam qualquer um, fascinaram ainda mais um miúdo português. Porque esse miúdo não sabia o que era o patriotismo. Portugal não era (nem é) uma pátria.

A falta de civismo e o corporativismo dos portugueses resultam da ausência desta irmandade retratada por Mann. E por que razão somos assim? Na resposta, posso apenas falar por mim. Eu nasci nos anónimos subúrbios de Lisboa, isto é, nasci em terra de ninguém. Sim, terra de ninguém. É impossível sentir amor por aquele enorme estaleiro de obras que é a suburbia de Lisboa. Eu não posso amar o sítio onde nasci, porque esse sítio é um padrasto de betão. Agora vivo em Lisboa, mas não sou lisboeta. Mas então qual é a minha terra? Há dias, uma revista dedicada ao Alentejo ajudou-me a responder a esta pergunta. Ao folhear a "Pormenores", senti um daqueles balázios metafísicos. O Alentejo dos meus avós é a minha terra. Aquele silêncio é a minha banda sonora. É no Alentejo que me sinto em casa. É lá que fica a minha pátria, logo, é de lá que pode vir o meu civismo. No sítio onde nasci, tolero uma rua suja. No Alentejo, não tolero um papel no chão. É através do Alentejo que posso respeitar Portugal por inteiro.

E agora o meu caro leitor pergunta: "mas V. está com esta conversa porquê?". Eu explico. O meu patriotismo tem sido apenas racional. Ando sempre a escrever sobre as mudanças institucionais que são necessárias para a salvação da pátria. Mas a salvação da pátria depende da redescoberta do amor patriota, algo que está antes dos livros. E, caro leitor, deixe-me avisá-lo de que esta minha autopsicanálise é aplicável a todos os portugueses. É que nós andamos sempre a falar da necessidade de fazermos reformas, mas nunca as fazemos. E não as fazemos, porque não amamos o país. A força necessária para mudar um regime vem do amor pelo país que está a montante do regime. Por isso, antes de entrarmos na conversa do costume, sugiro que cada português redescubra o seu Alentejo.

Henrique Raposo

Texto publicado na edição do Expresso de 10 de Abril de 2010

sexta-feira, 16 de abril de 2010

The Next Global Problem: Portugal

Segundo o New York Times:

The bailout of Greece, while still not fully consummated, has brought an eerie calm in European financial markets.


It is, for sure, a huge bailout by historical standards. With the planned addition of International Monetary Fund money, the Greeks will receive 18 percent of their gross domestic product in one year at preferential interest rates. This equals 4,000 eurPublish Postos per person, and will be spent in roughly 11 months.

Despite this eye-popping sum, the bailout does nothing to resolve the many problems that persist. Indeed, it probably makes the euro zone a much more dangerous place for the next few years. Next on the radar will be Portugal. This nation has largely missed the spotlight, if only because Greece spiraled downward. But both are economically on the verge of bankruptcy, and they each look far riskier than Argentina did back in 2001 when it succumbed to default.

Portugal spent too much over the last several years, building its debt up to 78 percent of G.D.P. at the end of 2009 (compared with Greece’s 114 percent of G.D.P. and Argentina’s 62 percent of G.D.P. at default). The debt has been largely financed by foreigners, and as with Greece, the country has not paid interest outright, but instead refinances its interest payments each year by issuing new debt. By 2012 Portugal’s debt-to-G.D.P. ratio should reach 108 percent of G.D.P. if the country meets its planned budget deficit targets. At some point financial markets will simply refuse to finance this Ponzi game.

The main problem that Portugal faces, like Greece, Ireland and Spain, is that it is stuck with a highly overvalued exchange rate when it is in need of far-reaching fiscal adjustment. For example, just to keep its debt stock constant and pay annual interest on debt at an optimistic 5 percent interest rate, the country would need to run a primary surplus of 5.4 percent of G.D.P. by 2012. With a planned primary deficit of 5.2 percent of G.D.P. this year (i.e., a budget surplus, excluding interest payments), it needs roughly 10 percent of G.D.P. in fiscal tightening.

It is nearly impossible to do this in a fixed exchange-rate regime — i.e., the euro zone — without vast unemployment. The government can expect several years of high unemployment and tough politics, even if it is to extract itself from this mess.

Neither Greek nor Portuguese political leaders are prepared to make the needed cuts. The Greeks have announced minor budget changes, and are now holding out for their 45 billion euro package while implicitly threatening a messy default on the rest of Europe if they do not get what they want — and when they want it.

The Portuguese are not even discussing serious cuts. In their 2010 budget, they plan a budget deficit of 8.3 percent of G.D.P., roughly equal to the 2009 budget deficit (9.4 percent). They are waiting and hoping that they may grow out of this mess — but such growth could come only from an amazing global economic boom.

While these nations delay, the European Union with its bailout programs — assisted by Jean-Claude Trichet’s European Central Bank — provides financing. The governments issue bonds; European commercial banks buy them and then deposit these at the European Central Bank as collateral for freshly printed money. The bank has become the silent facilitator of profligate spending in the euro zone.

Last week the European Central Bank had a chance to dismantle this doom machine when the board of governors announced new rules for determining what debts could be used as collateral at the central bank.

Some anticipated the central bank might plan to tighten the rules gradually, thereby preventing the Greek government from issuing too many new bonds that could be financed at the bank. But the bank did not do that. In fact, the bank’s governors did the opposite: they made it even easier for Greece, Portugal and any other nation to borrow in 2011 and beyond. Indeed, under the new lax rules you need only to convince one rating agency (and we all know how easy that is) that your debt is not junk in order to get financing from the European Central Bank.

Today, despite the clear dangers and huge debts, all three rating agencies are surely scared to take the politically charged step of declaring that Greek debt is junk. They are similarly afraid to touch Portugal.

So what next for Portugal?

Pity the serious Portuguese politician who argues that fiscal probity calls for early belt-tightening. The European Union, the European Central Bank and the Greeks have all proven that the euro zone nations have no threshold for pain, and European Union money will be there for anyone who wants it. The Portuguese politicians can do nothing but wait for the situation to get worse, and then demand their bailout package, too. No doubt Greece will be back next year for more. And the nations that “foolishly” already started their austerity, such as Ireland and Italy, must surely be wondering whether they too should take the less austere path.

There seems to be no logic in the system, but perhaps there is a logical outcome.

Europe will eventually grow tired of bailing out its weaker countries. The Germans will probably pull that plug first. The longer we wait to see fiscal probity established, at the European Central Bank and the European Union, and within each nation, the more debt will be built up, and the more dangerous the situation will get.

When the plug is finally pulled, at least one nation will end up in a painful default; unfortunately, the way we are heading, the problems could be even more widespread.








O que a esquerda caviar portuguesa não compreende


Porque é que a bolsa tem valor

por Martim Avillez Figueiredo, Publicado em 15 de Abril de 2010  |  Actualizado há 24 horas
A bolsa não é a catacumba de perigosos especuladores que a esquerda radical quer fazer crer. É um lugar onde pequenas poupanças ajudam a economia. Impostos? Incentivos, isso sim
Parece assunto arrumado: quem fizer mais-valias na bolsa portuguesa, e sempre que forem superiores a 500 euros, terá de devolver ao Estado 100 euros (ou 20% de tudo o que ganhar). Medida boa ou má? A resposta é essencial, porque esta é uma questão-chave na economia de um país - para já o problema foi capturado pelos argumentos saloios da esquerda radical (que olham para a bolsa como a catacumba na qual se juntam os especuladores) e contaminado pela ideia (razoável) de que se o trabalho é taxado, então, naturalmente, devem cobrar-se impostos sobre outras formas de ganhar dinheiro. Quem tem razão?

É preciso perceber primeiro para que serve a bolsa. Isso: ela não foi criada para especuladores. Na verdade, foi imaginada para combater Portugal. Em 1600, depois de Vasco da Gama descobrir o caminho marítimo para a Índia, a Holanda quis reagir. Não tinha dinheiro - e por isso fundiu numa só (em 1602) as suas empresas de comércio com a Índia. E vendeu títulos (uma espécie de recibos) prometendo pagar um prémio a quem os comprasse. Arrecadou 6 milhões de guilders - uma fortuna quando comparado, por exemplo, com as 68 mil libras levantadas pela britânica Companhia das Índias. Sucede que em 1612 a Companhia holandesa não conseguiu pagar o prémio prometido - e por isso criou uma bolsa (primeiro ao ar livre, depois fechada) onde pessoas normais compravam e vendiam esses títulos. Nascia a primeira bolsa do mundo em Amesterdão.

Ou seja, quem compra títulos está a financiar empresas. Isto é, quem compra a acção comporta-se como um pequeno banco: empresta o seu dinheiro pessoal. Ora, da mesma forma que os bancos cobram por isso, é legítimo que todos quantos invistam em acções possam cobrar esse esforço. Quem se lembra da história de Mary Popins recorda a visita do pequeno Michael ao banco onde trabalhava o pai: quando o chefe, Mr. Banks, o tenta convencer a dar-lhe as suas moedas para as investir, ele chama-lhe ladrão porque preferia aplicar tudo em chupa-chupas. Portanto: quem compra acções deixa de comprar outra coisa. E, comprando, permite a quem vende deixar de comprar esse dinheiro noutro lado. O que torna tudo muito mais simples: as bolsas de valores são apenas locais onde todos, de forma livre, podem trocar as suas acções por dinheiro - e não catacumbas para viver à custa dos outros.

O que permite o raciocínio final: se investir em empresas é um comportamento virtuoso, porque evita usar a banca sempre e, claro, não obriga o Estado a emprestar o mesmo dinheiro, qualquer imposto a cobrar não pode funcionar como um castigo: és ambicioso, queres ganhar dinheiro ilegítimo, então paga. Ilegítimo? Uma economia como a portuguesa deveria apoiar-se muito mais na bolsa do que na banca - o que significa que qualquer taxa deveria ser proporcional ao valor, por um lado, e à origem do dinheiro. Pessoas normais, com dinheiro normal, deveriam receber incentivos fiscais por investir na bolsa. Especuladores deveriam pagar imposto. Complexo? Ninguém disse que estar na política é tarefa simples.
Fonte: i

segunda-feira, 12 de abril de 2010

As 10 coisas que precisa de saber nesta manhã


Greece has finally been offered its European bailout with a 30 billion euro loan ($40.9 billion) at 5%, lower than market rates. The IMF is set to offer an additional 15 billion euros ($20.2 billion) as part of the deal.

The euro is up .56% on the news.Attention has now turned to Spain and its 11.3% of GDP budget deficit as the European debt crisis begins to spread across the Mediterranean area. The country's prime minister has had to publicly defend his country's austerity budget in the last 24 hours.
Businesses are moving to restock at a significant pace signaling confidence in the recovery. The variety of businesses is significant, with the likes of Tiffany's and Home Depot making similar inventory moves, according to Bloomberg.
U.S. rail traffic has fallen off due to a decline in in the shipment of coal, grain, construction materials, vehicles, and metal products.
Gold has risen to a 4-month high this morning, as other metals commodities also saw significant gains.

Platinum is near a 20-month high and palladium is near a 2-year high.
Oil prices have gone back above $85 as a result of the resolution of the Greek situation and a weakening dollar. Positive data out of China showing higher demand for crude oil is also having an impact.
Oil may have more serious long term problems though, with a U.S. military report revealing fears that extra capacity for oil production could cease to exist by 2012, with a 10 million barrel shortfall in oil predicted for 2015.
A Nomura Asset Management chief has given support to the China bubble argument stating that Chinese real estate in prime cities is overheated.
JP Morgan Chase, Wells Fargo, and Bank of America have been hit hard this morning, with news that the three will need to protect themselves from a potential $30 billion home-equity loan loss. This amount is near equal to the anticipated profit at the three banks this year, according to Bloomberg.
UBS, the Swiss bank under investigation for its involvement in tax evasion activities by the U.S. government, has come out with strong quarterly profits, the company's highest in 3 years. The company's debt trading unit is cited for 1.4 billion pounds ($2.2 billion) of the company's 1.52 billion pound ($2.3 billion) rebound.
Bonus: Lady Gaga has come out publicly in defense of celibacy, a lack of activity she says she practices.

Fonte: Business Finder

Portugal tem dois caminhos possíveis


"Out of the Box" ou "out of the Euro"

por Carlos Félix Moedas, Publicado em 12 de Abril de 2010 

A falta de competitividade é a nossa maior doença. A curto prazo temos dois caminhos, ou abandonamos o euro ou reduzimos o custo do trabalho. A longo prazo, aumentar a produtividade é a solução

Está na moda falarmos do défice e das suas consequências que serão drásticas e profundas na nossa economia. O governo apresenta-nos um PEC que apenas segue as linhas do passado e que não são mais do que vãs tentativas para remendar o futuro. A realidade é que remendar o futuro não chega. O que nós necessitamos é de um Programa de Estabilidade e Competitividade capaz de nos traçar o caminho para a cura da maior doença que o nosso país sofre actualmente, a falta de competitividade. Um PEC capaz de reduzir o gap anual entre exportações e importações que nos vão endividando ano após ano. Tal reflecte-se no nosso défice externo que se têm mantido acima dos 8% do PIB desde 2005 e que nos vai aumentando a dívida externa. Em 2009 a nossa dívida líquida ao exterior já atingia os 108% do PIB.
O PEC 2005-2009 definia como linhas de força a contenção da despesa com pessoal, sustentabilidade da segurança social, a melhoria da qualidade da despesa pública corrente, moralização do sistema fiscal e privatizações. O PEC 2010-2013 estabelece como linhas de força a redução da despesa corrente, a diminuição da despesa de capital, diminuição da despesa fiscal (i.e. aumento de impostos), melhoria da receita fiscal e privatizações para diminuir a dívida. Já devíamos ter percebido que estas linhas, que se repetem, não nos vão ajudar no imediato a aumentar a nossa competitividade, pois já foram testadas e revelaram-se paliativas no passado. Mesmo quando o governo conseguiu diminuir o défice entre 2005 e 2007, não conseguiu aumentar a nossa competitividade.

A nossa competitividade, ou falta dela, está intrinsecamente relacionada com a nossa produtividade e com os nossos custos unitários de trabalho. A nossa produtividade medida em PIB por hora trabalhada, quando comparada com a média europeia, aumentou em apenas 3% entre 2000 e 2009, enquanto os nossos custos unitários do trabalho nominais aumentaram exponencialmente em mais de 30% nesse mesmo período, quando comparados com um aumento de 20% na Zona Euro e 7% na Alemanha.

É este gap entre a produtividade e os custos do trabalho que nos vai tornando incapazes de competir com os outros países e que afecta directamente a nossa capacidade de exportação.
Países como a Grécia e Portugal têm sempre um caminho imediato para aumentar a competitividade, que é o de sair do euro e desvalorizar a moeda. Obviamente este caminho seria impensável, ou pelo menos gostaríamos de acreditar que assim fosse; por isso resta-nos reduzir os custos do trabalho para conseguir aumentar a nossa competitividade. Uma das formas mais imediatas seria reduzir os impostos sobre o trabalho sem descer a massa colectável. Em Portugal, o total das contribuições sociais ascende a 34.75%, o que é muito superior à média dos países membros da OCDE, que em 2009 apresentavam uma média de contribuições sociais de 24%. No caso da Grécia, o economista e ex-ministro das finanças da Argentina, Domingo Cavallo ousou propor, com base na sua experiência na crise Argentina no final dos anos 90, uma diminuição das contribuições sociais sem diminuir a massa colectável total. Para tal, os gregos deveriam aumentar o IVA e dar a possibilidade às empresas de creditar a diferença desse aumento em sede de taxa social única, mantendo assim o volume de imposição colectado pelo Estado, mas transferindo parte desse peso para o IVA. Não podendo reduzir o total da nossa matéria colectável para não agravar o défice, algo teremos de fazer para diminuir os custos do trabalho, que sufocam a nossa capacidade exportadora e não nos dão o oxigénio necessário para nos focalizarmos na produtividade. Se nada fizermos no curto prazo, arriscamo-nos à la limite a ter de abandonar a zona euro, o que terá consequências dramáticas para o nosso futuro. Sejam estas ou outras ideias fora do baralho, faltam em Portugal governantes e políticos que pensem de forma pragmática, diferente, e que não se contentem em repetir as ideias (ou PECs) do passado.

Membro do Instituto Francisco Sá Carneiro
Mestre em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard
Fonte: i
Infelizmente, a falta de visão estratégica e miopia dos nossos decisores políticos não parece que queira seguir algum tipo de caminho "out of the box" ...

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Emprestaria dinheiro a estes senhores?

Excelente artigo do Camilo Lourenço:


A imprensa tem dedicado muito espaço às queixas dos gregos (e não só) quanto ao papel dos especuladores na crise da sua dívida pública. Ainda na segunda-feira o número dois do Governo helénico dizia a este jornal que nós (portugueses) somos os próximos. De...

A imprensa tem dedicado muito espaço às queixas dos gregos (e não só) quanto ao papel dos especuladores na crise da sua dívida pública. Ainda na segunda-feira o número dois do Governo helénico dizia a este jornal que nós (portugueses) somos os próximos. De permeio acusou a Alemanha de "julgamentos raciais" (os gregos trabalham pouco...).

O que é extraordinário nesta história é a inversão de responsabilidades: a culpa é dos especuladores, que, com a sua actuação, ganham muito dinheiro. Poucos parecem lembrar-se de que os especuladores só têm êxito porque alguém (os gregos) não fez o trabalho de casa. Para as mentes mais sensíveis, sobretudo com inclinação para a esquerda, aqui ficam alguns números. Para pensar: 
1 - Entre 2004 e 2009, o governo grego aumentou o número de funcionários públicos em quase 50% e os salários/benefícios em 100% (Theodoros Pangalos dixit). 
2 - O défice orçamental é de cerca de dois mil milhões de euros/mês. A dívida total, colocada pelo país nos mercados, já soma uns incríveis... 300 mil milhões de euros (vale mais 13% que o Produto Interno Bruto do país). Os juros que a Grécia vai pagar, este ano, por essa dívida (se as taxas não continuarem a subir) vai chegar a 13 mil milhões de euros (mais do dobro do investimento público português em 2010). 

Aqui chegados, vale a pena deixar duas perguntas: algum dos críticos (dos especuladores) emprestaria dinheiro à Grécia... à mesma taxa que emprestaria à Alemanha? E colocaria nessa dívida toda a sua liquidez? Bem me parecia...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Passos fatais


Tese consensual: os problemas do desemprego, do défice e da dívida resolvem-se com crescimento económico.
Estrutura da economia, vista do lado da procura: a um PIB igual a 100 correspondem 88 de consumo, 22 de investimento e -10 de exportações líquidas, ou seja, de diferença entre exportações e exportações; os 10 em excesso são dívida e a acumulação destas dívidas já excede os 100 da riqueza nacional anual. A pergunta: como é que se cresce?
O consumo só pode crescer de duas maneiras: ou com mais rendimentos ou com menos poupança. Mas já vimos que todos os nossos rendimentos vão baixar, pelo menos até ao final desta legislatura. E a poupança, que financia o investimento, não pode baixar por isso mesmo: reduzi-la seria o mesmo que aumentar a dívida externa. Enfim, se estavam a pensar em consumo para resolver o problema - esqueçam.
Se por cada 100 unidades produzidas consumimos 88, então poupamos 12. E se é com esta poupança que queremos financiar o investimento, o melhor é fechar a loja e emigrar para Marte. Mas não é. Nós sabemos que, àqueles 12 de poupança, juntamos mais 10 emprestados e elevamos o investimento para 22. Dúvida angustiante: e quem suporta esta dívida que não pára de crescer? Bom, o melhor é também não contarmos com o investimento.
Restam-nos as exportações. Que só podem crescer por duas vias: ou pelo aumento da procura externa ou pela redução dos custos internos. Formas de reduzir os custos: menos impostos do Estado, ganhos de eficiência das empresas, cortes nos salários dos trabalhadores. Querem fazer o favor de escolher? Lamento a conclusão implícita: o Governo foi realista nas projecções que fez - malgrado o fraco crescimento, não há espaço para crescer mais. É trágico mas é assim.
Lembrei-me de tudo isto no dia em que Pedro Passos Coelho foi escolhido para novo líder do PSD. O seu discurso é claro: o problema só existe porque existe este Governo, que é preciso remover. O que previsivelmente ocorrerá em breve, seja qual for a via a adoptar. O herói do momento está deslumbrado com o sucesso, revela uma imaturidade arrepiante e ignora as consequências do seu próprio delírio. Preparemo-nos então para o pior: os passos de Passos são passos fatais.
A crise agradece.
Fonte:Daniel Amaral no Diário Económico