sexta-feira, 16 de abril de 2010

O que a esquerda caviar portuguesa não compreende


Porque é que a bolsa tem valor

por Martim Avillez Figueiredo, Publicado em 15 de Abril de 2010  |  Actualizado há 24 horas
A bolsa não é a catacumba de perigosos especuladores que a esquerda radical quer fazer crer. É um lugar onde pequenas poupanças ajudam a economia. Impostos? Incentivos, isso sim
Parece assunto arrumado: quem fizer mais-valias na bolsa portuguesa, e sempre que forem superiores a 500 euros, terá de devolver ao Estado 100 euros (ou 20% de tudo o que ganhar). Medida boa ou má? A resposta é essencial, porque esta é uma questão-chave na economia de um país - para já o problema foi capturado pelos argumentos saloios da esquerda radical (que olham para a bolsa como a catacumba na qual se juntam os especuladores) e contaminado pela ideia (razoável) de que se o trabalho é taxado, então, naturalmente, devem cobrar-se impostos sobre outras formas de ganhar dinheiro. Quem tem razão?

É preciso perceber primeiro para que serve a bolsa. Isso: ela não foi criada para especuladores. Na verdade, foi imaginada para combater Portugal. Em 1600, depois de Vasco da Gama descobrir o caminho marítimo para a Índia, a Holanda quis reagir. Não tinha dinheiro - e por isso fundiu numa só (em 1602) as suas empresas de comércio com a Índia. E vendeu títulos (uma espécie de recibos) prometendo pagar um prémio a quem os comprasse. Arrecadou 6 milhões de guilders - uma fortuna quando comparado, por exemplo, com as 68 mil libras levantadas pela britânica Companhia das Índias. Sucede que em 1612 a Companhia holandesa não conseguiu pagar o prémio prometido - e por isso criou uma bolsa (primeiro ao ar livre, depois fechada) onde pessoas normais compravam e vendiam esses títulos. Nascia a primeira bolsa do mundo em Amesterdão.

Ou seja, quem compra títulos está a financiar empresas. Isto é, quem compra a acção comporta-se como um pequeno banco: empresta o seu dinheiro pessoal. Ora, da mesma forma que os bancos cobram por isso, é legítimo que todos quantos invistam em acções possam cobrar esse esforço. Quem se lembra da história de Mary Popins recorda a visita do pequeno Michael ao banco onde trabalhava o pai: quando o chefe, Mr. Banks, o tenta convencer a dar-lhe as suas moedas para as investir, ele chama-lhe ladrão porque preferia aplicar tudo em chupa-chupas. Portanto: quem compra acções deixa de comprar outra coisa. E, comprando, permite a quem vende deixar de comprar esse dinheiro noutro lado. O que torna tudo muito mais simples: as bolsas de valores são apenas locais onde todos, de forma livre, podem trocar as suas acções por dinheiro - e não catacumbas para viver à custa dos outros.

O que permite o raciocínio final: se investir em empresas é um comportamento virtuoso, porque evita usar a banca sempre e, claro, não obriga o Estado a emprestar o mesmo dinheiro, qualquer imposto a cobrar não pode funcionar como um castigo: és ambicioso, queres ganhar dinheiro ilegítimo, então paga. Ilegítimo? Uma economia como a portuguesa deveria apoiar-se muito mais na bolsa do que na banca - o que significa que qualquer taxa deveria ser proporcional ao valor, por um lado, e à origem do dinheiro. Pessoas normais, com dinheiro normal, deveriam receber incentivos fiscais por investir na bolsa. Especuladores deveriam pagar imposto. Complexo? Ninguém disse que estar na política é tarefa simples.
Fonte: i

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