quinta-feira, 29 de abril de 2010

Momento Zen da Semana

Capitalism at Crossroads

Obamageddon is coming

O pior está para vir II

Em Novembro do ano passado escrevi este post "o pior está para vir". Por várias vezes tenho vindo a alertar neste blog que a crise do subprime foi combatida por muitos governos por todo o mundo (incluindo Portugal) de forma completamente errada e irresponsável. Os resultados estão agora à nossa vista. Os bailouts sem precedentes, os pacotes de investimento com base em endividamento público e taxas de juro baixas ao contrário do que muitos Governantes pensaram e ainda pensam não ajudaram a salvar o mundo. Bem pelo contrário têm vindo a criar uma bolha ainda maior, bolha essa que quando explodir vai fazer com que a crise do subprime pareça uma brincadeira de crianças.

A bolha da dívida pública começa a ameaçar explodir na Europa, ameaçando a estabilidade do Euro. Grécia e Portugal têm estado nas capas dos jornais nas últimas semanas causando grande instabilidade junto dos mercados. No curto prazo (tanto pode ser nas próximas semanas como no próximo ano) existe um real perigo de contágio, especialmente se tivermos em conta a bolha de dívida pública que existe neste momento por outros Estados europeus, em especial Irlanda, Espanha, Itália e Reino Unido.

E nada garante que os Estados Unidos, com o seu défice histórico de dois dígitos, não sejam os próximos da lista e estejam safos de um colapso do dólar, o que pode vir a baralhar ainda mais as coisas. Figuras como Roubini, Peter Schiff, Gerald Celente, ou Ron Paul há muito que têm avisado para os perigos deste modelo de endividamento público, acumulação de défices e impressão de moeda criada do nada, mas ninguém com cargos de responsabilidade parece querer ouvi-los. Cada vez estou mais convencido.O pior está mesmo para vir, e o que aí vem não vai ser nada bonito.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Ataques de irresponsabilidade

"Este é um momento decisivo. O país tem que responder a este ataque dos mercados. É tempo de o Governo e os partidos, em especial o PSD, se entenderem quanto a isto: há que executar as medidas necessárias. Não é tempo para querelas inúteis", disse hoje Teixeira dos Santos.

Já era altura dos nossos políticos deixarem de brincar com o fogo com as suas constantes fugas para a frente e dramas de vitimização. Nas últimas semanas parece que tem vingado a tese de que Portugal está a ser alvo de um ataque de especuladores que nos querem comprar à Grécia. Portugal não é ainda a Grécia, mas quem ouve os membros do Governo português falar fica logo com a ideia de que isto é tudo uma grande cabala contra Portugal e que a culpa é dos especuladores. O que é extraordinário aqui é a inversão de responsabilidades. A culpa não é dos malandros dos especuladores que querem ganhar dinheiro à conta dos nossos disparates. A culpa é nossa, do país, que anda há anos a viver acima das suas possiblidades .... A culpa é do Estado (não interessa quem está à frente do Governo pois mudam-se as cores políticas e mantém-se sempre a tendência de aumento da despesa pública) que pesa hoje quase  50% do PIB nacional e tem um défice de 9.4%. Se fossem tudo rosas por Portugal e estivessesmos com as nossas contas públicas controladas os malandros das agências de rating não estariam a baixar o nosso rating nem estaríamos neste momento no lote dos países com maior risco de bancarrota.  Ninguém no seu perfeito juízo pode achar que seria normal que quem empreste dinheiro a Portugal neste momento tivesse o seu risco de nos emprestar dinheiro a ser remunerado à mesma taxa de juro que emprestaria à Alemanha. Vale a pena reler este ensaio que Ricardo Reis escreveu para o jornal i em Dezembro.

 Portugal nesta altura só tem uma solução. Devemos exigir aos nossos governantes que tranquilizem os credores e o mercado com medidas concretas de controlo das finanças públicas, mas olhando também para um crescimento económico sustentável. Em vez dos nossos governantes andarem a fazer-se de vitimas de ataques do mercado, deveriam estar a acalmar o mercado com medidas sérias e de preferência que fujam às típicas fórmulas do passado que nunca resultam. Aqui ficam algumas propostas para Sócrates (algumas delas já propostas antes neste blog):

1- Mexer nos impostos. Não aumentando os impostos, mas fazendo precisamente o contrário ou pelo menos tornando a política fiscal mais simples e transparente. Por exemplo como já proposto aqui: mexer com o IRS aplicando uma taxa de IRS única e positiva ou em alternativa pura e simplesmente abolir com o IRS taxando apenas o consumo via IVA (e aqui até se poderia eventualmente subir o IVA ligeiramente).

2- Baixar a despesa pública mas de forma significativa. Isto por muito que custe a muita gente, implica cortes salariais no sector público, e cortes na saúde e educação (em Portugal está-se convencido que injectar mais e mais dinheiro na educação por si só faz milagres. os resultados estão à vista). Acrescentaria a privatização da RTP que é um buraco financeiro sem sentido algum e que é sempre uma arma política a ser usada por quem quer que esteja à frente do Governo, e da TAP, e de empresas de transportes públicos como a Carris ou a Refer que andam à anos e anos a acumular prejuízos à conta de preços abaixo do mercado subsidiados pelo Estado.

3-Em suporte ao ponto 2 acabar com muitas das parcerias-público privadas pornográficas que o Governo Sócrates tem usado e abusado para mascarar as contas públicas.Ao passar responsabilidades que costumavam entrar no Orçamento de Estado para empresas públicas como a Estradas de Portugal, o Governo Português tem estado (de modo legal diga-se) a mascarar o verdadeiro défice público. À conta destes truques contabilísticos só nos últimos 2 anos as Estradas de Portugal viu o seu passivo aumentar uns pornográficos 1391%. Isto tem de acabar. 

4-Alterar a Constituição Portuguesa: Défices públicos deverão ser declarados como inconstitucionais. Portugal não pode continuar a viver acima das suas possibilidades, e sem crescimento económico sustentável. Em Portugal desdenhamos a poupança.Pior que isso, os nossos políticos estão convencidos que é o consumo que lidera o crescimento económico e não a poupança. Os nossos políticos desde o 25 de Abril que andam todos convencidos disto e ainda não conseguiram perceber, mesmo com todos os disparates que têm feito desde então, que esse caminho é o errado. O futuro de um Portugal sustentável só pode passar por um Portugal que seja rigoroso e que imponha a si própria a ambição de não ter défices, mas sim superavits. O futuro de Portugal só pode passar por um Portugal que tenha a ambição de estimular poupança, porque é a poupança que permite investimento futuro, que por sua vez permite ganhos de competitividade e aumento dos nossos níveis de vida. 

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Vieira da Silva devia ler isto


Combustíveis: E o culpado é...


Sempre que os preços dos combustíveis disparam, geram-se discussões patéticas sobre o mau funcionamento do mercado. As companhias petrolíferas são invariavelmente as más da fita, acusadas de concertarem posições para maximizarem os ganhos. A demagogia é tanta que mesmo depois da Autoridade da Concorrência (AdC) ter estudado exaustivamente o comportamento do mercado e de não ter descoberto qualquer conduta anómala, as acusações permanecem. Os eternos opositores do mercado livre preferem agora atacar a AdC pondo em causa o próprio estudo.

Recomendo a leitura cuidada do relatório "Análise Aprofundada sobre os Sectores dos Combustíveis Líquidos e do Gás Engarrafado em Portugal". que está disponível no site da AdC. Em especial a Vieira da Silva que afirmou esta semana não compreender o porquê dos preços dos combustíveis serem tão elevados em Portugal.
Ora o preço dos combustíveis em Portugal, diz a AdC com base em dados de 2008, resulta da soma de impostos (46% para o gasóleo e 59% para a gasolina), com o preço dos combustíveis refinados no mercado nacional e internacional (44% para o gasóleo e 32% para a gasolina) e com a actividade logística e retalhista (cerca de 10% para ambos).

Como é óbvio as gasolineiras não controlam os impostos, e os preços dos combustíveis refinados estão em linha com os preços de outros países. A margem do retalhistas acaba por ser muito pequena, na ordem dos 13 cêntimos por litro.No dia 12 de Abril um litro de gasolina custava €1,402. Deste, €0,234 é IVA, €0,583 é imposto sobre produtos petrolíferos (ISP) e €0,585 o preço real que serve para pagar os custos do petróleo - extracção, transporte, refinação, armazenagem e distribuição.

Claro que existem postos de abastecimento que fazem preços mais baratos (super e hipermercados) mas abdicam da quase totalidade do lucro para fomentar estratégias comerciais de retalho.Não quer isto dizer que as gasolineiras estejam isentas de culpa. A AdC alerta para o facto de as empresas demorarem muito tempo a ajustarem os preços relativamente à variação do preço do petróleo (cerca de quatro a cinco semanas no gasóleo e cinco a seis da gasolina). Na média da União Europeia este desfasamento é de apenas três semanas. E a subida de preços ocorre por norma uma semana mais cedo do que o ajustamento à descida. Este intervalo de tempo constitui uma importante receita extra para as gasolineiras.

E depois temos a dimensão do mercado que leva a que países pequenos tenham mais custos de estrutura que não conseguem mitigar através do volume de vendas.

Sr. ministro, se não compreende porque é que o preços dos combustíveis são tão elevados compare os preços antes e depois de impostos com a média europeia. É que o Estado é o único grande beneficiário do aumento dos combustíveis.

Texto publicado na edição do Expresso de 17 de Abril de 2010
João Vieira Pereira