sábado, 19 de dezembro de 2009

Toyota e Portugal

Mais um excelente artigo do Martim Avillez Figueiredo publicado hoje no i:

A maior construtora de automóveis do mundo tem um novo homem ao leme, que diz "isto pode falhar". Em Portugal, ao leme, todos dizem "isto vai resultar"


Quando o novo CEO do gigante automóvel Toyota tomou o poder na companhia do seu avô, curvou-se perante as evidências: a sua companhia era a maior fabricante de automóveis do mundo, ainda mais forte que a poderosa General Motors. A mesma delicadeza, uns tempos depois, permitiu- -lhe assumir numa reunião de accionistas que a leitura de um livro mudara a sua perspectiva: a Toyota, acreditava ele, chegara ao quarto nível dos cinco que conduzem uma empresa ao declínio.

Ainda que muitos na Toyota acreditem que se trata de excesso de zelo deste japonês de 53 anos, a verdade é que Akio Toyoda (isso, Toyoda) sabe que qualquer grande negócio pode morrer como nasceu: depressa. Qualquer negócio, como qualquer país. Portugal, como a empresa de Toyoda, devia ler o livro do americano Jim Collins: "How the Mighty Fall". Sim, Portugal é pequeno - mas é bom que aprenda como os grandes caem, e sobretudo é bom que aprenda que se cai.

Sócrates, com as suas mais recentes lutas parlamentares - onde todos perderam já parte do juízo -, tem revelado pelo menos uma das tentações de que fala Collins no seu livro: depositar todas as esperanças em saltos estratégicos para grandes tecnologias ou grandes negócios. Não é que falhe - o problema é mais simples. Se todas as esperanças são postas numa saída, o eventual insucesso torna-se fatal. Já aqui se escreveu: não há razão para acreditar que a estratégia dos grandes investimentos públicos , com a construção de novas infra-estruturas, falhe. O que não se pode é acreditar, como disse ainda Sócrates há poucos dias, que aí (e quase exclusivamente aí) reside a saída para a crise. Nem o Nobel Paul Krugman acredita nessa ideia - quer investimento em infra-estruturas, mas apoiado por uma nova dinâmica fiscal e pacotes financeiros ajustados a diferentes segmentos da população americana. Um caminho apenas é que não.

Porque o problema é conhecido, sobretudo agora que a Grécia ameaça entrar em falência técnica: um país que se endivida em excesso e cuja economia não consegue crescer - durante uma boa década - a ritmos superiores a 3% tem uma enorme dificuldade em ser solvente, isto é, em tornar-se rentável e capaz de gerar dinheiro para pagar aquilo que gasta. Em Inglaterra fizeram as contas e descobriram que será preciso crescer acima de 3% e esperar até depois de 2030 para corrigir todos os efeitos desta crise. Em Portugal, para começar, não se cresce acima de 3% desde 2000. Ao ritmo de crescimento de 2% (que é difícil), as contas (e contas são apenas isso - contas) indicam que menos de seis décadas (60 anos!) sempre a crescer a 2% talvez pudessem corrigir o estado das coisas. Talvez.

Mas isso não é coisa que o nosso parlamento queira discutir. Talvez o Natal os mude.

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