Há quem lhe chame o ano perdido. Há quem lhe chame a década perdida. Será? Não é verdade, há bons exemplos, há grandes ideias
Podíamos fechar o ano lembrando todas as catástrofes e desgraças que se acumularam este ano. Todos os erros políticos. Todos os excessos dos governantes. Todos os investimentos falhados e todo o dinheiro desbaratado. Não o vamos fazer. Não por moralismo ou piedade, apenas porque não há nada de novo a dizer. O país rumina os mesmos assuntos há demasiado tempo e encontra na incapacidade dos políticos a justificação para o próprio imobilismo. Chega de complacência e autocomiseração.
Há bons exemplos - exemplos de pessoas normais -, que saem incólumes de 2009. Negócios que frutificaram, talentos que ganharam dimensão e aproveitaram as oportunidades. Talentos que nos indicam o caminho para 2010. Por exemplo, o de Catarina Portas. A empresária não era empresária, mas em 2004 teve uma ideia: olhar para produtos de design histórico português e ver no que dava. Começou sem objectivos gloriosos, foi visitar fábricas e falar com pessoas. Juntou produtos, fez alguns contratos com empresas e foi crescendo. Tudo o que ganhou reinvestiu e hoje tem uma loja no Chiado que está sempre cheia. A Cartier fechou. A Vida Portuguesa não tem espaço para tantos clientes. O Porto vem a seguir.
As pessoas gostam, as pessoas compram, as pessoas reconhecem que estão perante uma iniciativa comercial (não benemérita) que, embora tenha origem na história, tem as bases plantadas no futuro: os produtos são nacionais, não são chineses de má qualidade, não são produtos brancos. Não se trata de nacionalismo, apenas de bom senso: talvez um dia Catarina abra uma loja de produtos históricos franceses. Ou até chineses. Não interessa. Interessa que não ficou à espera de subsídios públicos ou que lhe indicassem o caminho. Viu uma oportunidade e ocupou um espaço que ninguém julgava existir. O caminho é esse. Procurar o que outros não vêem. Arriscar. Mesmo sem crédito da banca, foi o que Catarina Portas fez.
Há muitos anos, nos Estados Unidos, fizeram um inquérito a 50 estudantes das melhores universidades. Confirmada a superioridade intelectual do grupo, fizeram outras perguntas mais fáceis - destas cinco linhas, qual a mais comprida? -, mas antes de obter a resposta mostraram a cada um destes jovens cérebros brilhantes (o teste era individual) as respostas dos outros. Não eram as respostas verdadeiras, eram falsas, pretendiam apenas confundir. Dos 50 candidatos, um terço ignorou o que os seus olhos viam, copiaram, seguiram a (falsa) maioria. Resultado: indicaram como mais longa uma das linhas mais curtas.
Em Portugal, achamos que a maioria das pessoas pensa que não temos esperança, que nada funciona, que não vale a pena. É mentira, não estamos no fim da linha. A unanimidade é burra. Catarina Portas prova-o: acaba de abrir uma janela contra a corrente. Como diz Pedro Pina, 2010 será o ano dos empreendedores apaixonados: mais paixão igual a honestidade, autenticidade, esforço. Vem aí um grande ano para quem fizer.
por André Macedo, Publicado em 31 de Dezembro de 2009
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