quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Num instante tudo muda

por Martim Avillez Figueiredo, Publicado em 11 de Fevereiro de 2010 


A coragem e determinação de Paulo Rangel não apagou a política: avança contra quem o podia apoiar. O mundo está a olhar para Portugal - e o que diz não é bom


Paulo Rangel lançou a sua candidatura ao PSD pedindo uma ruptura que resgate o futuro. Foi inteligente na forma como sublinhou que esta seria a terceira vez que o PSD é chamado a libertar o país. Rangel promete salvar Portugal, sublinha que não tem exércitos e usou uma linguagem nova, inovadora. Quer reunir à sua volta os homens livres - ups... Aguiar-Branco (faça Zoom nas páginas 22-23) ficou furioso porque, apesar dos sms que trocou com Rangel, este preferiu avançar sozinho. É a boa velha política?

É bom que Rangel acredite que Portugal tem futuro. É evidente que esta sua disponibilidade (disse antes peremptoriamente que não) surge depois da violenta pancada que Sócrates sofreu nas últimas semanas. Isso não é mau: é a vida. Sucede que da mesma forma que o primeiro- -ministro está apanhado por uma terrível rede de onde não é fácil escapar, também este voluntarismo de Paulo Rangel afunda à nascença o seu partido numa luta entre iguais. É muito improvável que apareçam hoje vozes como a de Nuno Morais Sarmento, por exemplo, a apoiar Rangel. Ele pode até querer, mas vai esperar para ver o que faz Aguiar-Branco. E Portugal não tem tempo para que os disponíveis se dividam.

O anúncio da candidatura de Rangel apanhou-me em São Paulo, onde apesar do entusiasmo com que o i, convidado como Jornal Europeu do Ano, é aqui visto, Portugal continua a ser olhado com uma pesada indiferença. Mete dó. Portugal já era o país dos padeiros para estes brasileiros (agora) ricos. Ganhou o nome de porquinho - não é jeitinho brasileiro, é aproveitar a boleia que o mundo financeiro deu quando agregou nessa palavra mal-cheirosa (PIGS) as economias de Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha. A indiferença com que olham o país já custa - mas piora quando se ouvem empresários e jornais informados explicar que também em Portugal se criaram bolhas imobiliárias gigantes ou pornográficos endividamentos da economia doméstica. Não é verdade - mas isso de nada vale quando há quem acredite nisso.

O Brasil é o 11.o mercado português (em exportações), mas por cá uma garrafa de Pêra-Manca custa mais de 80 euros (em supermercado). O Brasil tem cerca de 20 grandes empresas nacionais no seu mercado: uma das maiores, a Energias do Brasil (cotada até em bolsa), vale cerca de 5% do impressionante mercado energético brasileiro, mas essa migalha representa já mais de 20% dos resultados totais da EDP. Portugal precisa do Brasil, mas para o usar precisa de um futuro. Nisso Rangel tem razão - falta futuro.

Mas do Brasil chega nova lição: em 2010 escolhe-se novo presidente. O mediático (e consensual) Lula não se pode recandidatar - o que aos olhos nacionais poderia ser interpretado como sintoma de crise. Disse assim ao i um dos grandes empresários brasileiros: "Pouco importa se vai ganhar Dilma ou Serra. A economia brasileira vai crescer entre 4 a 6% nos próximos dez anos." Os empresários e os brasileiros sabem o que os espera. Por cá, ainda se espera D. Sebastião.



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