sexta-feira, 12 de março de 2010

Emigramos ou vamos à luta?


O que têm em comum os resultados de grandes empresas portuguesas não-financeiras, como a EDP, PT, Jerónimo Martins, Efacec, Cimpor?
Quase todos mostram que a maior parte dos seus proventos já vêm dos mercados externos. Isso é bom ou mau? Depende. Numa primeira leitura é obviamente positivo. Quer dizer que as empresas portuguesas conseguiram expandir-se e que o seu processo de internacionalização tem corrido bem. Tornaram-se empresas, se não globais, pelo menos multinacionais. E não apenas por causa dos mercados onde estão presentes. Também os seus colaboradores passaram a ser oriundos de várias nações. Isso torna-as mais talentosas, mais fortes internamente, mais capazes de responder aos desafios da globalização e às ameaças da concorrência, mais inovadoras, mais cosmopolitas, mais capazes de aproveitar as oportunidades.
Há, no entanto, um lado menos positivo desta evolução. E isso tem que ver com o facto desta expansão externa das empresas portuguesas se dever também, em parte, à estagnação desde há uma década do mercado interno, com a economia nacional a registar crescimentos tristemente anémicos. Foram obrigadas a procurar externamente aquilo que não encontram no mercado interno.
Mas isso tem consequências, a principal das quais é traduzida no escassear de oportunidades de emprego para os jovens licenciados portugueses. Com efeito, as referidas empresas são dos maiores empregadores nacionais. Se crescem sobretudo nos mercados externos, é lá que recrutarão colaboradores locais para apoiar essa expansão. A emigração é então o caminho que resta a quem se preparou arduamente para um emprego tecnicamente exigente e não encontra trabalho em Portugal compatível com o esforço que desenvolveu. E assim cerca de 30 mil cidadãos deixam anualmente Portugal em busca de oportunidades que não encontram no seu próprio país.
Retenho duas frases publicadas no Expresso da semana passada. Uma de António Barreto: "O facto de haver hoje uma emigração quase tão significativa como há 40 anos é dos factos mais reveladores da fragilidade da economia e da sociedade". Outra de Ilídio Pinho: "A continuar assim, não há orçamento que resista e acabaremos por ser fabricantes de criados e de criadas para a Europa e para o mundo". Estas afirmações sintetizam o ponto em que nos encontramos. Apesar do muito que progredimos desde 1974, a década de 2000 foi duplamente perdida: internamente e na comparação com os outros Estados da União Europeia.
Chegados aqui, contudo, só restam dois caminhos: ou baixamos os braços e cada um procura resolver os seus problemas; ou vamos à luta e tentamos ultrapassar colectivamente a situação em que nos encontramos. Por mim, escolho a segunda opção. Não só por mim. Também por todos os que lutaram para que este país fosse e se mantivesse independente desde 1143. E também pela responsabilidade que temos para com as novas gerações de lhes deixar um país melhor, mais moderno e competitivo do que aquele que encontrámos. Mas esta segunda via implica a consciência de que: 1) temos vivido acima das nossas possibilidades; 2) todos temos de fazer sacrifícios para ultrapassar a situação. Sem a aguda consciência destas duas variáveis, o melhor mesmo é emigrar.
Nicolau Santos
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