quinta-feira, 18 de março de 2010

Thinking out of the box: Algumas propostas para Sócrates


Um banco de ideias para sair da crise

por André Macedo, Publicado em 18 de Março de 2010 
A Irlanda pediu ao país que sugerisse ideias para sair da crise sem predecentes em que se encontra. É um exemplo a seguir?

O governo irlandês acaba de lançar uma competição nacional pedindo às pessoas que contribuam com ideias que possam ser transformadas em novos negócios, criem emprego e devolvam o clima de confiança que reinava antes da crise. O tigre celta quer voltar a rugir e está disposto a usar os melhores recursos que o país tem para o conseguir: os irlandeses. Quando não há dinheiro, sobram as ideias - e, portanto, o melhor caminho passa por aqui.

Adrian Zecha, fundador do resort de luxo Aman - um dos melhores do mundo -, costumava dizer, sem grande elegância, que não vale a pena defecar como um pássaro, mais vale fazê-lo como um elefante. Apesar da surpreendente falta de cerimónia - ainda mais forte quando retirada do contexto -, o ponto de Adrian Zecha era simples: nas situações mais difíceis e perante as maiores dificuldades não vale a pena espirrar timidamente um par de soluções, a única saída é executar com confiança um plano ousado capaz de mudar o statu quo ou, pelo menos, iniciar essa mudança radical de paradigma.

É isso que a Irlanda quer fazer. Não lhe basta congelar salários, cortar bónus e reduzir a despesa pública. Essas são as receitas habituais para cortar um défice público que rivaliza com os Himalaias: à volta dos 12%. O governo irlandês quer encontrar uma alternativa capaz de ajudar o país a sair da crise e está disposto a pedir ajuda a quem a quiser dar. O concurso, na verdade um desafio, aceita a contribuição de todos, estrangeiros incluídos (pág. 24).

Os cínicos dirão que se trata apenas de uma campanha de relações públicas ou de um miserável truque publicitário. Têm razão, mas só em parte. Um dos objectivos políticos é seguramente o de tentar ajudar o governo a recuperar da imagem desgraçada em que mergulhou - apesar desta tentativa de face lift não ser crime nenhum. No entanto, há outras dimensões da iniciativa que convém sublinhar.

Por um lado, a dimensão da catástrofe é tão grande que não se resolverá sem o envolvimento e o sacrifício de todos. Ora, nada melhor de que uma campanha nacional para assumir esta mensagem e credibilizar o esforço. Finalmente, a campanha servirá também como foco para o governo irlandês. Aprovadas as ideias, elas servirão de meta e de compromisso para as novas políticas públicas.

A Irlanda inspirou-se no melhor que há no marketing. Nos Estados Unidos há um banco que obriga todos os funcionários a atender os telefones e a receber os clientes com a frase: bem-vindo ao melhor banco do mundo! Como é evidente, esse pequeno banco regional não é o melhor do mundo, mas a frase não é apenas uma frase, é um compromisso que inicia todos os contactos. Assim, os clientes sentem-se sempre no direito de exigir melhores serviços; e os funcionários, mesmo nas manhãs de azia, sabem que têm essa meta a atingir. Para vincar ainda mais este esforço, o mesmo banco aboliu os balcões: clientes e funcionários sentam-se lado a lado, sem barreiras. No fundo, é o princípio seguido pela Irlanda: reduzir o fosso entre governo e governados. Não é Sócrates o génio do marketing?

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