quinta-feira, 11 de março de 2010

O marketing da política (parte 2)

por Pedro Bidarra, Publicado em 09 de Março de 2010 


UMA AMIGA, vinte e seis anos, inteligente, culta e bem-educada, disse-me, meio envergonhada, que nunca tinha votado. A razão era lógica. Sendo madeirense, embora vivendo cá há mais de dez anos, mantinha residência na Madeira para ter bilhetes de avião mais baratos. Enfim, tinha um benefício por não votar. Quem a pode condenar?

Pensemos na últimas eleições legislativas e no que foi dito.

Eu fiz um esforço e não me lembrei de nada. Depois fiz algumas perguntas e lá me veio à memória o TGV, as escutas e... E isto é muito perto de nada. Assim a política e a democracia não ganham consumidores.

Que benefícios foram apresentados, que promessas, que visões? Quanta esperança nos foi dada no futuro? Ou, mais simples ainda, lembra-se de algum diagnóstico pertinente e inspirador, de algum "insight" sobre os portugueses ou Portugal? Algo que o tenha tocado e feito sentir que estavam a falar consigo? Ouve alguma ideia mobilizadora que lhe apetecesse abraçar, que o fizesse acreditar? Lembra-se de alguma coisa?

A política que cá se faz hoje é cheia de diagnósticos consensuais e opiniões contraditórias que somam zero. Os benefícios que os nossos partidos hoje prometem são menores que um desconto num voo para a Madeira. São embalagens vazias de esperança, de visão, de ideias; produtos anacrónicos, espécie de sabão azul e branco que cada vez menos os consumidores quererão usar. É urgente que as grandes marcas da democracia portuguesa, que são os partidos, reencontrem tanto os motivadores da participação como os discriminadores que fazem optar - isto é, o que os torna diferentes e nos ajuda a escolher. A isto chama-se marketing. Só depois vem a comunicação.


Vice-presidente da BBDO


Fonte: i


Recomendo também a leitura da 1ª parte do Marketing da Política

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